Em uma jornada ambiciosa para se tornar uma potência energética global, o Brasil, guiado pela Petrobras, está se posicionando para se juntar aos maiores produtores de petróleo do mundo até o final desta década. A mais recente adição à sua frota, a plataforma offshore P-71, simboliza este avanço, marcando uma nova era na produção de petróleo do país.
Localizada a 200 km da costa do Rio de Janeiro, a P-71, uma das mais de 30 plataformas geridas pela Petrobras, opera na cobiçada região do pré-sal. Esta área, lar de 11,5 bilhões de barris de petróleo bruto, é famosa por seus depósitos situados sob uma camada de sal profundo no oceano. A descoberta desses depósitos no início deste século foi considerada a mais significativa no hemisfério ocidental em 30 anos.
José Ferreira Junior, gerente da P-71, reflete sobre os desafios e triunfos enfrentados no desenvolvimento do pré-sal, enfatizando que esta conquista elevou o Brasil a um patamar importante no cenário de produção de petróleo mundial.
Em 2022, a produção de petróleo do Brasil cresceu 4%, alcançando 3 milhões de barris por dia, com três quartos dessa produção originária do pré-sal. O governo brasileiro tem planos ambiciosos para escalar essa produção para 5,4 milhões de barris por dia até o final da década, ultrapassando produtores como Irã, Canadá e Kuwait.
A Petrobras, avaliada em US$ 99 bilhões e considerada o maior negócio de petróleo e gás da América Latina, desempenha um papel fundamental nesse esforço. A empresa, controlada pelo Estado mas com participação de investidores externos, trabalha em consórcios com gigantes internacionais como Shell, TotalEnergies e outros, para explorar essa riqueza.
Joelson Falcão Mendes, diretor de exploração e produção da Petrobras, expressa confiança nas metas futuras da empresa, destacando o aumento significativo na produção esperado nos próximos anos. A descoberta inicial das reservas do pré-sal em 2006, principalmente na Bacia de Santos, apresentou desafios técnicos significativos. A profundidade de até 7 km abaixo da superfície do mar, incluindo camadas de rocha e sal, exigiu investimentos colossais.
A produção do pré-sal, que saltou de 41 mil barris/dia em 2010 para 2,3 milhões em 2022, tem sido uma fonte lucrativa para a Petrobras e para investidores externos, gerando lucros recordes e dividendos substanciais.
Apesar de um declínio no lucro líquido no terceiro trimestre, afetado pela queda dos preços do petróleo e um dólar mais fraco, a Petrobras viu um aumento de quase 10% na produção total de petróleo bruto. Planos para impulsionar a extração incluem a introdução de 11 novas plataformas na região do pré-sal até 2027.
Com a previsão de que a produção atinja seu pico em 2029 antes de começar a cair, há questionamentos sobre os próximos passos estratégicos para a Petrobras e para o Brasil. A corrida global por reservas de hidrocarbonetos, como evidenciado por recentes aquisições de gigantes petrolíferas dos EUA, destaca a demanda contínua por petróleo e gás.
No entanto, no contexto das mudanças climáticas, a dependência contínua do Brasil em petróleo e gás enfrenta críticas. Os desafios incluem encontrar um equilíbrio entre os compromissos ecológicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o desenvolvimento dos recursos do pré-sal.
A Petrobras, ao mesmo tempo que se compromete com fontes de energia mais limpas, continua a ver os combustíveis fósseis como um pilar da política nacional. Mendes defende que a empresa, como uma entidade de energia integrada, pode usar os lucros do petróleo e gás para investir em energias renováveis.
A produção do pré-sal é vista como uma fonte de energia ideal durante a transição energética, sendo mais barata e menos poluente em comparação com outras fontes. A P-71, capaz de processar 150 mil barris por dia, destaca-se como um exemplo da magnitude dessas operações.
A Petrobras também está explorando novas fronteiras offshore, como a Margem Equatorial, potencialmente rica em petróleo. A empresa também está se preparando para se tornar um desenvolvedor líder de energia eólica offshore no Brasil, alinhando-se com as promessas de Lula de diversificação energética.
Apesar desses avanços, analistas alertam sobre os riscos de retornos financeiros mais baixos e a possibilidade de interferência política nos negócios da Petrobras, especialmente considerando seu histórico em administrações anteriores.
O futuro da Petrobras e o papel do Brasil na transição energética global permanecem em foco. A riqueza do pré-sal pode ser a chave para desbloquear novas oportunidades em energias renováveis, conforme destacado por Ferreira, gerente da plataforma P-71.
Este artigo foi atualizado para excluir um gráfico anterior sobre a produção de petróleo não-OPEP.