Os países da América Latina e do Caribe estão diante de uma encruzilhada no que diz respeito ao desenvolvimento de suas indústrias de energia limpa. Apesar do potencial vasto e dos recursos naturais abundantes, a competição acirrada com economias avançadas, como os Estados Unidos e a União Europeia, tem criado obstáculos significativos para a região se destacar no mercado global de tecnologias sustentáveis.
Segundo líderes regionais, as novas leis dos EUA, que oferecem bilhões de dólares em subsídios para tecnologias limpas, e as futuras tarifas de carbono da União Europeia, somadas ao domínio de décadas da China, estão dificultando o crescimento local. Essas dificuldades foram ressaltadas durante a conferência global de energia CERAWeek, realizada em Houston, onde ministros de energia discutiram as barreiras enfrentadas por seus países.
Stuart Young, ministro de Energia de Trinidad e Tobago, destacou que a região enfrenta grandes desafios ao competir por recursos limitados para a infraestrutura renovável. “Estamos competindo por um fornecimento limitado de tecnologia”, afirmou Young durante o evento. O Brasil, que possui uma das maiores reservas de recursos renováveis, também sente o impacto das políticas protecionistas. O ministro de Energia do Brasil, Alexandre Silveira, comentou que o país pode ser prejudicado pelas tarifas de carbono da UE, mesmo sendo um grande produtor de energia hidrelétrica e exportador de bens intensivos em energia, como o aço.
Além disso, muitos países da América Latina estão presos em dilemas econômicos que incluem altos níveis de dívida, juros elevados e classificações de crédito desfavoráveis. Esses fatores tornam mais difícil obter financiamento para projetos de energia limpa, como destacou Clarissa Lins, da consultoria Catavento. Enquanto isso, outras nações, como os EUA, conseguem alavancar vastos subsídios para impulsionar suas indústrias.
A região possui um terço das reservas mundiais de cobre e lítio, minerais essenciais para a transição energética. O Brasil, por exemplo, tem imenso potencial para a produção de hidrogênio verde, graças aos seus recursos hidrelétricos, eólicos e solares. No entanto, o alto custo de capital para desenvolver essas tecnologias, aliado à dificuldade de financiamento, impede que esses países avancem com a velocidade necessária.
Em meio a essas adversidades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva planeja levantar a questão do protecionismo em fóruns internacionais, como a próxima reunião do G20, que será sediada no Brasil. A ideia é pressionar a UE e os EUA a reconsiderarem suas barreiras comerciais, facilitando a entrada dos produtos latino-americanos no mercado global.
Embora as economias avançadas, como EUA e UE, tenham representado mais de 50% dos gastos globais em energia limpa em 2022, a América Latina e o Caribe participaram com apenas 16%, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Mesmo assim, o potencial da região continua sendo um ponto de interesse para investidores estrangeiros em áreas como mineração de lítio, hidrogênio e biocombustíveis.
Ainda que desafios econômicos e políticos persistam, especialistas acreditam que a vasta oferta de energia renovável da América Latina a coloca em uma posição competitiva para enfrentar a transição energética global.
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