As restrições impostas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) à geração de energia renovável estão começando a comprometer os investimentos em projetos de energia solar e eólica no Brasil. Os cortes obrigatórios de geração, que limitam a produção de usinas para manter a estabilidade da rede elétrica, têm gerado perdas significativas para o setor.
Desde janeiro de 2023, geradores de energia solar e eólica acumulam prejuízos de aproximadamente R$ 1,8 bilhão devido aos cortes frequentes, intensificados após um apagão que deixou seis estados do Nordeste sem energia em agosto do mesmo ano. O impacto é direto nos planos de expansão das empresas, que agora enfrentam incertezas quanto ao futuro da geração renovável no país.
Investimentos Freados
Francisco Silva, diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), relatou que várias empresas têm revisado seus planos de investimento por conta dos cortes. “Ainda não temos dados consolidados, mas as incertezas têm sido suficientes para desacelerar novos projetos”, afirmou.
No setor solar, o panorama também é desafiador. O aumento do imposto de importação sobre módulos fotovoltaicos, em vigor desde dezembro de 2023, adicionou um obstáculo ao desenvolvimento de novos projetos. “Isso altera completamente os modelos de negócios e pode desacelerar a expansão que havíamos projetado”, disse Carlos Dornellas, da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Além disso, os preços baixos da energia nos últimos dois anos desmotivaram o avanço de projetos greenfield, enquanto a seca severa de 2024 trouxe volatilidade ao mercado, pressionando os custos.
Desafios na Transmissão
Outro gargalo apontado por especialistas é a capacidade da rede nacional de transmissão para suportar o crescimento das fontes renováveis. O “mapa de margens” do ONS, que identifica a capacidade da rede de absorver novas conexões, está congestionado, mesmo após a “anistia” concedida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2023, permitindo que projetos inativos fossem desconectados sem penalidades.
“Precisamos de maior atenção para atrasos em linhas de transmissão e uma modernização no planejamento da rede”, enfatizou Dornellas. Ele defendeu investimentos mais rápidos em infraestrutura para evitar que a expansão das energias renováveis fique comprometida.
Expansão Apesar das Dificuldades
Apesar dos desafios, o Brasil atingiu um recorde na expansão de capacidade de energia renovável. Entre janeiro e outubro de 2024, foram adicionados 9,3 GW ao sistema, sendo 1,5 GW apenas em outubro. A maioria das novas usinas instaladas é solar e eólica, reflexo de contratações realizadas em anos anteriores.
“A instalação de projetos segue um ritmo constante, mas as contratações futuras podem ser impactadas pelos cortes e pela falta de previsibilidade”, explicou Silva.
Perspectivas
Especialistas e associações do setor alertam para a necessidade de maior flexibilidade operacional no sistema elétrico. Segundo o think tank Acende Brasil, a expansão de fontes intermitentes, como a solar e a eólica, exige ajustes estruturais no mercado de energia. “É essencial garantir a adequação da oferta para evitar novos problemas no sistema”, afirmou a entidade.
Com um cenário de crescimento comprometido por desafios regulatórios e estruturais, o setor de energia renovável no Brasil enfrenta um momento de reflexão e adaptação. O futuro dependerá de medidas coordenadas entre governo, reguladores e empresas para garantir um ambiente favorável à expansão sustentável das energias limpas.
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