O megaporto de Chancay, financiado pela China, está a ponto de se tornar uma rota essencial para o comércio entre a América do Sul e a Ásia, com a perspectiva de ser inaugurado pelo presidente chinês Xi Jinping durante sua visita ao Peru. Com um custo de US$ 3,5 bilhões e vinculado à Iniciativa do Cinturão e Rota, o projeto gerou grandes expectativas, mas também levantou questões geopolíticas e logísticas que podem impactar toda a região.
Localizado ao norte de Lima, o porto de Chancay foi concebido como um ponto estratégico para conectar a América do Sul com o Pacífico e, por consequência, com a China. No entanto, os desafios para integrar essa infraestrutura com o Brasil – a maior economia da América do Sul e um parceiro comercial significativo da China – começaram a surgir, colocando o projeto numa encruzilhada.
Desafios logísticos e geopolíticos
Embora o Peru tenha grandes ambições para o projeto, com uma integração da infraestrutura rodoviária e portuária em expansão, as distâncias envolvidas para o Brasil tornam a utilização do porto uma tarefa logística complexa. A cerca de 3.600 quilômetros de Manaus, a cidade brasileira mais próxima, Chancay se apresenta como uma opção distante para exportadores brasileiros, que atualmente escolhe rotas atlânticas mais curtas.
Leolino Dourado, pesquisador da Universidade do Pacífico, afirma que, embora o porto seja uma promessa, a logística não é favorável, uma vez que transportar mercadorias por terra é muito mais caro do que por via marítima. “Embora o tempo de viagem para a Ásia seja mais curto, o custo do frete não favorece a rota pelo Pacífico, dado que a maioria do comércio brasileiro com a China é de minerais e soja, produtos localizados a grandes distâncias de Chancay”, comenta Dourado.
Além disso, as rodovias do Peru não são eficientes o suficiente para suportar o volume de transporte necessário para tornar o porto uma opção viável para os brasileiros. Em resposta, o governo peruano tenta negociar um investimento adicional para a construção de infraestrutura elétrica, algo crucial para melhorar a conexão com o Brasil.
Potencial para uma nova dinâmica comercial
Apesar dos desafios, o Brasil não deixa de ver potencial na parceria. O governo brasileiro tem se aproximado das autoridades peruanas para explorar o uso do porto como uma rota estratégica para seus produtos. João Villaverde, secretário de cooperação institucional do Ministério do Planejamento, afirmou que a criação de rotas de integração com o Peru pode trazer benefícios significativos, especialmente para os setores de mineração e agricultura. Além disso, o Brasil possui vastas reservas de lítio, uma estratégia mineral para a produção de baterias, e vê no acesso ao Pacífico uma oportunidade de expandir suas exportações para a China.
“Com a proximidade com a Ásia, o Brasil pode se beneficiar não apenas ao exportar matérias-primas, mas também ao transformar o lítio e outros minerais, agregando valor antes de enviá-los para a China”, explicou Villaverde.
Implicações geopolíticas para a América do Sul
Porém, os impactos geopolíticos vão além das questões logísticas. A ligação direta entre o Brasil e o porto de Chancay tem gerado preocupações nos Estados Unidos, que veem na iniciativa da China uma forma de expandir sua influência sobre a região. Durante uma conferência em Miami, Erik Bethel, ex-representante dos EUA no Banco Mundial, alertou sobre os riscos geopolíticos dessa conexão, dizendo que “será um grande negócio, e se você não estiver acompanhando, é hora de começar a prestar atenção”.
Com uma presença crescente da China na América Latina, os Estados Unidos têm apoiado com cautela a expansão das infraestruturas portuárias e comerciais da China, como o porto de Chancay, que não só pode alterar a dinâmica comercial, mas também fortalecer a influência política de Pequim na região.
O megaporto de Chancay tem o potencial de transformar o comércio entre a América do Sul e a Ásia, mas suas previsões para o Brasil dependem de como os desafios logísticos serão enfrentados. Embora as oportunidades sejam claras, o Brasil e o Peru terão que lidar com questões de complexidade de infraestrutura, custos de transporte e dinâmica geopolítica para que o projeto alcance todo o seu potencial. O futuro dessa rota comercial depende da capacidade dos governos e das empresas de superar obstáculos e integrar eficazmente os mercados sul-americanos ao vasto comércio da China.
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