
Trabalhar embarcado é viver entre o céu e o mar, em uma rotina de 12 horas diárias em meio a máquinas barulhentas, refeitórios coletivos e protocolos de segurança rigorosos. Para muitos, essa realidade parece inóspita — mas é exatamente assim que parte essencial da energia que move o mundo é extraída.
O que é trabalhar embarcado?
“Embarcado” é o termo usado para descrever os profissionais que atuam em plataformas de petróleo localizadas no mar, conhecidas como offshore. Essas unidades operam em regime ininterrupto, 24 horas por dia, o que exige turnos revezados e profissionais altamente capacitados.
Além das longas jornadas de trabalho, o isolamento é outro aspecto marcante: os trabalhadores permanecem semanas sem ver a família, vivendo em uma estrutura metálica cercada por água, vento e um certo grau de risco.
Estrutura das plataformas: o que existe dentro de uma “ilha de ferro”
As plataformas variam de tamanho e tipo, podendo ser fixas ao solo oceânico ou flutuantes (FPSO). Algumas contam com helipontos, salas de jogos, academias e até lavanderia — recursos destinados a tornar a vida a bordo menos estressante.
Acomodação, porém, é compartilhada: quartos com beliches, banheiros coletivos e espaços limitados. Os trabalhadores, como Carlos Arruda relatou, dividem o tempo entre 12 horas de trabalho e 12 horas de descanso, onde as principais distrações são conversar com a família por computador, correr ao redor do heliponto ou simplesmente descansar após um dia exaustivo.
A difícil logística para chegar até a plataforma
Trabalhar embarcado exige mais do que disposição física — exige também paciência. Dependendo da localização, o trajeto até a plataforma pode incluir metrô, ônibus, viagens interestaduais e, por fim, um voo de helicóptero de até 40 minutos.
Carlos contou que, para embarcar na plataforma P-8 no campo de Marimbá (atualmente privatizado), saía de Santos, passava por São Paulo, Macaé e Farol de São Thomé antes de voar até o destino final.
Esse processo é necessário porque as plataformas geralmente ficam em alto-mar, longe de áreas urbanas, enfrentando mares agitados e com necessidade de segurança extrema durante a aproximação.
A rotina a bordo: entre responsabilidades e perigos
As funções a bordo são múltiplas: operadores de torre, engenheiros, cozinheiros, enfermeiros, paramédicos, gerentes de instalação (OIM), entre outros. Cada profissional é essencial para manter a operação da plataforma ativa, segura e produtiva.
A jornada de trabalho é intensa: 12 horas ininterruptas com tarefas manuais pesadas, exigência de concentração total e treinamento prévio rigoroso. A cada 14 dias de embarque, o trabalhador retorna ao continente para um período de folga — normalmente 21 dias.
A segurança é um pilar inegociável. Plataformas são equipadas com sistemas contra incêndio, baleeiras (barcos de emergência), coletes salva-vidas e pontos de reunião em casos de sinistro. Cada trabalhador recebe treinamento obrigatório para saber exatamente o que fazer em emergências, como incêndios na cozinha ou necessidade de evacuação.
Estruturas colossais: as gigantes do mar
As plataformas offshore são verdadeiros titãs da engenharia. Um exemplo impressionante é o campo de Goliat, na Noruega — uma instalação flutuante de produção, armazenamento e descarregamento (FPSO) construída na Coreia do Sul e transportada por mais de 29 mil km até o Ártico.
Essa planta tem capacidade para armazenar 950 mil barris e conta com mais de 120 trabalhadores embarcados em tempo integral.
No Brasil, o destaque é a FPSO Guanabara, da Petrobras, que liderou a produção nacional em setembro de 2024 com média diária de 1.028 mil barris de petróleo e 11,9 milhões de m³ de gás natural. Localizada no campo de Mero, na Bacia de Santos, essa plataforma opera em regime de partilha e é uma das maiores do mundo.
Por que ainda usamos petróleo?
Apesar dos avanços em energia limpa, o petróleo segue como base energética em países como EUA, China, Arábia Saudita e Japão. O Brasil, embora tenha uma matriz energética predominantemente hídrica, também utiliza derivados do petróleo em setores estratégicos.
A produção de energia ocorre com a queima desses derivados (gasolina, óleo diesel, querosene), que geram vapor para movimentar turbinas e produzir eletricidade. No entanto, esse processo libera CO₂ e outros poluentes, agravando o efeito estufa e incentivando a busca por fontes mais limpas — como energia solar, eólica e hidrogênio verde.
Trabalhar embarcado: mais que uma profissão, um estilo de vida
Para muitos, trabalhar embarcado é uma experiência transformadora. Exige coragem, resiliência, disciplina e, acima de tudo, espírito de equipe. Carlos Arruda, por exemplo, considera o aprendizado pessoal um dos maiores ganhos dessa vivência.
A convivência com pessoas de diferentes culturas, sotaques e experiências torna o ambiente de trabalho intenso, mas enriquecedor. Muitos profissionais afirmam que, apesar dos perrengues, a experiência embarcada muda a forma de ver o mundo — e muitos até considerariam voltar.
Curiosidades e cultura pop
A série Ilha de Ferro, produzida no Brasil, retrata a vida nas plataformas offshore — embora com certa liberdade artística. Para quem se interessa pelo tema, é uma produção que vale assistir, com a ressalva de que os aspectos de segurança e rotina real podem ser idealizados.
Outra dica cultural é o filme Capitão Phillips, que mostra o risco de ataques piratas a embarcações, tema que também impacta o setor offshore em certas regiões do mundo.
Trabalhar embarcado é estar no coração de uma das indústrias mais complexas e estratégicas do planeta. Exige preparo físico, psicológico e técnico. É viver em uma “ilha de ferro”, cercado por oceanos, lidando com riscos reais, mas também com recompensas únicas — profissionais e pessoais.
Se você já pensou em embarcar nesse mundo, agora sabe: mais do que um emprego, é uma jornada cheia de desafios, aprendizados e histórias para contar.
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